Clube de Leitura

Este ano consegui iniciar algo que há muito tempo eu tinha vontade de fazer: participar de um Clube de Leitura. Minhas leituras sempre foram solitárias, com exceção daquelas que eram recomendadas por amigas. Não líamos exatamente juntas, mas podíamos conversar um pouco depois. Só que estar intencionalmente em uma leitura coletiva está me proporcionando uma experiência inteiramente nova e enriquecedora.

Escolhi o Clube das Jovens Senhoras, da Fernanda Vianna, pois acompanho o trabalho dela há um tempo e gosto bastante. Vão ser 6 meses de leituras e na lista estão algumas obras que eu já tinha interesse de ler e outras que não conhecia. Neste primeiro mês, estamos lendo “Os Buddenbrook”, de Thomas Mann. Para ser bem sincera, é uma obra que dificilmente eu leria por iniciativa própria, e isso é o mais incrível, poder sair um pouco do lugar-comum e… me surpreender!

Só para listar mais alguns pontos positivos desta experiência nestes primeiros dias:

  1. Ter metas diárias de leitura. Um cronograma definido, com números de páginas a ler por dia pode parecer metódico demais a ponto de estragar a espontaneidade de uma leitura. Mas para mim, que tenho o costume de deixar muitos livros pela metade, este controle tem me ajudado a ter uma rotina de leitura mais consistente. E um cronograma é só um planejamento, não faz mal perder alguns dias e depois compensar, ou até mesmo ler a mais se você entrar no fluxo. É só um passo a passo para tornar a leitura de um calhamaço menos assustadora.

  2. Poder compartilhar suas impressões da obra em tempo real em um grupo do Telegram. Mesmo que sejam apenas risadas ou memes. O que se torna um ótimo incentivo para cumprir as metas, pois não queremos ficar atrasadas com as fofocas literárias.

  3. Compreender a obra de uma forma mais profunda. No primeiro encontro de discussão, eu praticamente só ouvi, pois fiquei encantada com todas os comentários, análises e interpretações da obra. Isso faz a leitura atingir um patamar que eu não conseguiria sozinha. Dá vontade de ler tudo de novo para conseguir captar todas as nuances! Comecei a perceber a grande diferença do que é uma leitura por entretenimento e o que é uma obra de arte, digna de um prêmio Nobel de literatura.

Estou na metade do livro, super envolvida com o enredo e os personagens, mas agora continuarei a leitura com um olhar transformado. Espero em breve poder trazer mais atualizações sobre esta experiência literária.

Quando 50% já é tudo de si

Já faz mais de 8 meses do dia em que procurei um médico, ao não conseguir mais ignorar o fato de que eu não estava bem. Pedir ajuda é difícil para mim, e se o fiz, é porque estava mesmo no limite. E, ao ouvir de um profissional da saúde que eu estava doente, tive que aceitar algo que também é desafiador para mim: assumir que não tenho o controle de tudo.

A depressão estava há muito tempo ali, embora escondida por trás uma rotina intensa, em sua maior parte destinada ao trabalho. Eu não parava, e assim não tinha tempo de olhar para o que se passava dentro de mim. Não sei bem quando isso começou. Com a maternidade? Com a pandemia? Com a sobrecarga de trabalho? Agora isso já não importa tanto, pois finalmente aceitei este estado.

Ou não.

Estou hoje bem melhor, depois de várias trocas de medicações e dosagens. De sessões semanais de terapia. De mudança de cidade e de local de trabalho. Mas a verdade é que eu já não sei mais o que é estar bem de verdade. Eu acho que perdi este parâmetro. Para mim, por muito tempo, estar bem significava estar ativa, fazendo coisas, ainda que houvesse uma certa negligência na escolha de prioridades.

Depois que eu aceitei e me permiti estar doente, eu afundei. A vontade sumiu. A energia acabou. O vazio me encarou. Meus dias arrastados só ficavam intensos quando chegavam as crises de ansiedade.

Para alguém como eu, que sempre quis fazer muitas coisas e TUDO ao mesmo tempo, estar paralisada era muito sofrido, era uma derrota, por mais que eu tivesse uma boa justificativa. Com o passar dos meses, a vontade de fazer as coisas foi voltando. Hoje eu já sinto aquele ânimo de colocar os planos no papel, mas não passa muito disso… meu corpo parece não acompanhar, e não consigo executar muita coisa além do básico.

É difícil aceitar que dar o máximo de mim não corresponde nem à metade do que eu idealizo. Eu não consigo celebrar os pequenos avanços, pois sempre estou pensando no que eu ainda não consigo fazer. O corpo é sábio, ele para. Não posso dizer o mesmo da minha mente, que só deu alguma trégua quando eu estive em um estado constante de sonolência.

Eu quero acordar. Mais que isso, quero levantar! Mas como lidar com esta vontade de correr sem me machucar?

Bom… Não sei porque escolhi este tema para tratar aqui. Quebrar o silêncio de tanto tempo com algo tão desconfortável… Por outro lado, se ainda tenho a esperança de poder expressar aqui um pouco dos meus pensamentos, não posso me limitar à ideia romantizada de que ter muitos interesses é uma virtude. Preciso ser sincera e dizer que a intensidade também me adoeceu.

Poli…blogueira?

Eis aqui mais uma etapa desta saga que já vem durando mais de 20 anos: a busca por um espaço virtual para escrever e compartilhar ideias. Sempre me incomodou o fato de o primeiro passo precisar ser a escolha de um nome, de um título, quando nem sempre eu tinha clareza do que queria. As coisas vão tomando forma ao longo do processo e fechar-me já de início em uma caixinha, quase sempre significava ter que recomeçar quando meus interesses mudavam de foco.

As caixinhas, por outro lado, não são de todo mal. Não só nos títulos de blogs, mas sobretudo na vida, poder denominar-me “vegana”, “minimalista”, “professora”, “cantora” etc., trazia-me um conforto, um sentido, uma sensação de ter finalmente encontrado quem eu era ou queria ser… mas sempre foi algo momentâneo e logo voltava a sensação de não-pertencimento.

Até que me dei conta de que para lidar com meus diversos interesses eu não precisava abandonar um para me dedicar a outro, eu poderia conciliá-los! Conhecer o conceito de “Polímata” me ajudou a aceitar um pouco mais esta metamorfose ambulante como parte da minha personalidade. Na verdade, é só mais um nome, mas espero que me inspire a escrever sobre qualquer assunto que me chame atenção. E que possa me ser útil ao menos como título, por ser amplo o suficiente para permitir as minhas mudanças habituais de temas (até o dia em que eu decidir voltar a ser monotemática…)

No fundo, sou apenas um ser humano em construção, em um constante encantamento com as descobertas que vão surgindo em meu caminho. Se um dia eu já quis ser minimalista, hoje aceito a minha incansável necessidade por mais… mas calma, esta foi só uma tentativa de terminar o texto com uma frase de efeito. Em breve, voltarei a este ponto, que é complexo demais para tratar aqui. O importante agora era (re)começar.

Confusão de valores

 

Se eu desejo estudar mais, posso ter a impressão de que um caderno ou um livro novo vão me ajudar a conquistar este hábito. Mas não são esses objetos que vão fazer de mim uma boa estudante, e sim o meu esforço, a minha disciplina. Pode parecer óbvio, mas essas relações muitas vezes se confundem.

Dedicar-se diariamente ao estudo, tarefa muitas vezes solitária e cansativa, não é tão fácil e não traz uma recompensa imediata. Já os objetos materiais nos oferecem um prazer instantâneo. Embora possam servir como estímulo, por outro lado, eles podem nos desviar do objetivo principal, simplesmente porque ficamos viciados nesta gratificação sem esforço e iludidos de que ter algo nos deixa mais próximos de ser algo.

Se há muito a se fazer, não há conselho melhor do que começar com aquilo que já temos. Porém se somos diariamente bombardeados por lembretes de tudo que não possuímos e precisamos ter, como manter o equilíbrio e focar as energias nos recursos que já estão ao nosso alcance?

Limitar a quantidade de objetos que possuímos é uma opção, assim faremos uma seleção dos mais importantes e poderemos aproveitar o máximo de cada um deles. Se não há um controle do que temos e do valor de cada um desses itens, seja financeiro ou emocional, será fácil cair nas armadilhas de querer sempre algo mais. E passaremos a vida apenas pulando de uma coisa a outra, brevemente estimulados e constantemente insatisfeitos, desperdiçando a chance de construir algo realmente significativo para nós.

Somos leitores ou compradores de livros?

 

Algumas pessoas expressam seu consumismo em roupas, outras em eletrônicos ou em produtos de beleza. Comprar livros parece estar em uma categoria neutra, afinal, que mal há em “investir” nos seus estudos ou na sua formação intelectual? Ler é cultura, ler é conhecimento, ler é diversão, ler é cult. Mas será que nossa vida de leitura se equipara às nossas idas à livraria?

Amamos os livros, amamos o cheirinho do papel, amamos o design das capas. Adoramos sair com uma pilha de livros pesados nas mãos, encenando o lado árduo do conhecimento. Amamos ver nossas casas enfeitadas com esses objetos enfileirados, dando um ar intelectual ao ambiente. Mas será que amamos a leitura? Será que amamos a democratização dos livros?

Parar, sentar e ler um livro está se tornando uma atividade cada vez mais rara. Exige tempo, exige frequência. Comprar é bem mais fácil e rápido, nos dá uma gratificação imediata. Nos sentimos de certa forma mais inteligentes se saímos da livraria com uma sacola cheia. Ter uma prateleira lotada de livros em casa, nos dá uma aparência de leitores assíduos. Mas, passado um tempo, os livros empoeirados e amarelados talvez sirvam apenas como um lembrete visual de tudo que não lemos ou deixamos pela metade.

É certo que não conseguiremos ler todos os livros que desejamos. Mas tentar amenizar essa frustração comprando muitos livros, certamente não resolverá o problema. E se é limitada a quantidade de livros lidos em uma vida, muitos deles só vamos ler uma única vez. Então porque gastar tanto dinheiro e espaço com livros que dificilmente serão relidos? Com exceção dos que usamos para consulta ou aqueles que servem de guia para nossas vidas, portanto estamos sempre relendo, o livro se tornou um item quase descartável. Isso porque, após lidos (ou nem lidos), não temos coragem de recicla-los ou de passar adiante: empilhamos esse lixo intelectual com orgulho e egoísmo em nossas paredes.

Podemos ficar tentados a comprar ou a manter livros parados, para o caso de precisarmos deles no futuro. Mas a verdade é que não ter um livro não significa que ele ficará de repente inacessível. Até mesmo livros com edições esgotadas podem ser encontrados em bibliotecas ou  em sebos (e até online). E se, um dia, um determinado livro se tornar extremamente necessário, temos o privilégio de poder ir até uma livraria e comprá-lo. Antecipar a compra à necessidade é o mesmo que transferir o item da prateleira da loja para a prateleira do quarto.

Os livros ainda são artigos de luxo. E se realmente amamos a leitura, vamos usar nossas economias e energias para realmente ler e fazer aquele livro ser acessível ao maior número de pessoas. Se não conseguimos resistir à compra de um livro novo, que o consumo tenha mesmo uma utilidade, em vez apenas mascarar nossas reais necessidades. E que o livro, após lido, possa ser emprestado, trocado, doado, e não apenas usado como mero enfeite na parede, vigiado a unhas e dentes.

A professora minimalista

Desde que comecei a dar aulas, venho tentando conciliar duas práticas aparentemente opostas: ser professora e minimalista. Por estar na profissão há pouco tempo, surgiu de imediato uma necessidade de conseguir mais livros, mais materiais, mais planos de aula, para tentar compensar a falta de experiência. Porém, observando outros professores, vejo que esta busca por mais realmente faz parte da profissão, já que ela demanda uma constante atualização.

Por isso, estou em busca de formas de crescer como professora, sem me perder em meio ao excesso de informações e ideias. Para começar, consigo pensar em alguns “princípios” minimalistas que podem ser aplicados à docência, em especial ao que diz respeito ao planejamento das aulas e aos estudos:

  • Aproveitar o máximo dos recursos que eu já tenho;
  • Adquirir novos recursos somente quando houver relevância e tempo para desfruta-los, e não apenas para acumular;
  • Ter atitudes práticas e objetivas quando precisar lidar com o excesso de informações: em pesquisas na internet, por exemplo;
  • Simplificar a quantidade de papel, digitalizando os documentos mais importantes para facilitar posteriores consultas, além de liberar espaço físico;
  • Lidar com as informações e ideias de forma organizada, para poder realmente desenvolvê-las;
  • Utilizar as tecnologias ao meu favor, otimizando tempo e espaço.

Colocar essas sugestões em prática é algo que estou tentando fazer. No momento, tenho muito mais reflexões do que resultados, mas ao menos estou mais atenta às minhas atitudes e escolhas como professora. Espero compartilhar mais sobre este processo nas próximas postagens.